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Biografia de Roberto Freire

Joaquim Roberto Corrêa Freire nasceu em São Paulo no dia 18 de janeiro de 1927. Formou-se em Medicina, na Universidade do Brasil/RJ em 1952. Enquanto estudante, e após a sua formatura, trabalhou como pesquisador em eletrofisiologia e em biofísica celular no Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil, sob a orientação do professor Carlos Chagas Filho.

Em 1953 foi trabalhar no Collège de France, em Paris, desenvolvendo trabalhos de endocrinologia experimental, sob orientação do professor Robert Courrier. Publicou vários trabalhos nas revistas das Academias de Ciências do Rio de Janeiro e de Paris.
Após alguns anos trabalhando como endocrinologista clínico, Freire realiza sua formação em Psicanálise através da Sociedade Brasileira de Psicanálise/SP, com o prof. Henrique Schlomann. Em 1956, realiza trabalhos de acompanhamento clínico no Centro Psiquiátrico Franco da Rocha/ SP.

A partir deste período Freire busca novas fontes de pesquisa, realizando estágios no exterior. Em Bioenergética, com os discípulos de Wilhem Reich, em Paris; e em Gestalterapia, com os discípulos de Frederich Perls, em Bourdeaux. Suas divergências teóricas e ideológicas se ampliam e Freire acaba se distanciando da psicanálise, ao mesmo tempo em que se aproxima cada vez mais do campo artístico, literário e político brasileiro.

Roberto Freire, militante clandestino lutando contra a ditadura militar, não encontrava na Psicanálise nem na Psicologia tradicional as ferramentas necessárias que auxiliassem nos conflitos emocionais e psicológicos de seus companheiros de luta que o procuravam buscando algum tipo de ajuda. Foram principalmente as pesquisas de um cientista renegado pelo meio acadêmico – considerado por muitos como o dissidente mais radical da Psicanálise – Wilhelm Reich, que influenciaram Freire na criação de uma nova técnica terapêutica corporal e em grupo.

A Soma nasceu de uma pesquisa sobre o desbloqueio da criatividade, realizada no Centro de Estudos Macunaíma, com as contribuições de Miriam Muniz e Sylvio Zilber. Através de exercícios teatrais, jogos lúdicos e de sensibilização, Roberto Freire foi criando uma série de vivências que possibilitavam uma rica descoberta sobre o comportamento, suas infinitas e singulares diferenças. Perceber como o corpo reage diante de situações comuns no cotidiano das relações humanas, como a agressividade, a comunicação, a sensualidade, e sua associação com os sentimentos e emoções, permite um resgate daquilo que nos diferencia enquanto individualidade, para criar um jeito novo, a originalidade contra a massificação. Assim, a Soma se construiu como um processo terapêutico com conteúdo ideológico explícito, o Anarquismo.

Simultaneamente a vida científica, desenvolveu atividades artísticas e culturais, desde seu retorno da Europa, especialmente no campo da poesia e do teatro. Desta época resultou um trabalho de poesia ainda inédito: Pé no Chão, Roupa Suja, Olho no Céu. A maioria desses poemas foi musicada pelo compositor Caetano Zama, sendo que um deles (Mulher Passarinho) teve gravação de Agostinho dos Santos, no período inicial da bossa nova.

No Teatro, Freire foi diretor das peças Escurial, de Michel Guelderhode e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, além de autor e co-diretor de O&A, (co-direção com Sionei Siqueira). A peça Morte e Vida Severina é sempre muito lembrada por diretores e atores, pois foi a revelação de um jovem músico: Chico Buarque. Além disso, esta peça, de 1965, enaltecia dois pilares essenciais no teatro: a sua alta qualidade artística associada ao trabalho de mobilização do grupo de atores, músicos e diretores. Esses elementos foram fundamentais na superação da estrutura material ainda precária, e impulsionaram o grupo de tal maneira que, no ano seguinte, a peça obtivesse o primeiro lugar no Festival de Teatro de Nancy/ França.

Freire trabalhou também em funções administrativas, como Presidente da Associação Paulista da Classe Teatral; Diretor do Serviço Nacional de Teatro; e Diretor Artístico no TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo). Na Música, Freire foi letrista e jurado de diversos Festivais da MPB. Nesta época trabalhava para a TV Globo na criação e redação (em parceria com Max Nunes) no programa A Grande Família. Mesmo assim, Roberto Freire e o grupo de jurados – Nara Leão (presidente), Rogério Duprat, Décio Pignatari, Sérgio Cabral, César Camargo Mariano, Big Boy, entre outros – decidem que Freire seria o representante do júri nacional que leria o manifesto assinado por eles no palco do Maracanãzinho. O pesquisador Zuza Homem de Mello, em seu livro A Era dos Festivais, uma parábola (2003, Editora 34, p.429), descreve claramente de que maneira os resultados dos Festivais passaram a ser ditados pelos interesses ligados à ditadura militar e enfoca o papel de Roberto Freire no último FIC (Festival Internacional da Canção da TV Globo). “Ao tentar ler no palco do VII FIC um manifesto contra a destituição do júri nacional, Roberto Freire foi violentamente arrastado por policiais, que o levaram a uma sala e o espancaram barbaramente (…) Terminava a Era dos Festivais”.

Em televisão, Freire foi autor de Teleteatro, exibido na TV Record e na Rede Globo. No Cinema fez a Direção e Roteiro do longa-metragem Cleo e Daniel, com Miriam Muniz, John Herbert, Beatriz Segall, Irene Stefânia (no papel de Cleo), Chico Aragão (como Daniel). O roteiro é uma adaptação do romance homônimo, escrito por Freire em 1966, inspirado na tragédia “Daphnis e Chloe” do poeta romano Longus. O primeiro livro de Freire é reconhecido como um marco para as gerações de 1960 e 1970, que se identificava fortemente com os conflitos familiares e amorosos das personagens.

No jornalismo Freire foi repórter e redator de medicina e saúde pública no jornal OESP; diretor-responsável e redator do jornal Brasil Urgente; cronista do jornal A Última Hora/ SP; repórter da revista Realidade, Editora Abril, na qual obteve o Prêmio Esso com a reportagem Meninos do Recife; Diretor de reportagem da revista Bondinho; Editor da revista Grilo (histórias em quadrinhos).

Na área da Educação, foi assessor do prof. Paulo Freire no Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, associando as pesquisas pedagógicas a um movimento nacional de cultura popular. Este trabalho foi interrompido após 1964. Além desta experiência, Roberto Freire foi professor na disciplina Psicologia do Ator na Escola de Artes Dramáticas da USP, então dirigida por Alfredo Mesquita, onde acumulava a função de médico clínico dos alunos. Em 1958, a convite dos alunos e por insistência do amigo e mestre Alberto D’Aversa, também professor da EAD e recém chegado da Argentina, escreveu a peça Quarto de Empregada, cujos dois únicos papéis eram representados (como exercício didático) pelas alunas Ruthnéia de Moraes e Assunta Peres. Quarto de Empregada é, até hoje, a peça mais encenada de Roberto Freire.

Em todas as atividades às quais se dedicou – psicanálise, teatro, televisão, jornalismo e a literatura – Roberto Freire deixou suas marcas. Porém, segundo o próprio Freire, a Somaterapia foi a sua principal contribuição enquanto teórico e libertário.

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